Nós somos o que somos (e "nós" é no plural)

Peço perdão logo de cara pelo suspense

É que hoje eu estou assim mesmo

Com uma vontade sádica de deixá-lo impaciente.

--

Teste sua atenção!

Leia as palavras abaixo apenas uma vez, depois feche os olhos e tente falar todas elas novamente.

Lua

Chuva

Circo

Sala

Mesa

Lápis

Milho

Flor

Balão

Cesto

Mãe

Corpo

Boca

 

Um pouco complicado, imagino.

Agora leia essas.

 

Rio

Vaca

Carro

Fogo

Porta

Pato

Índio

Meia

Ponto

Doce

 

Tente novamente.

Tente agora a lista anterior, sem olhar.

Complicou um pouco mais, imagino.

 

Agora tentamos o seguinte.

 

“Em uma noite com chuva e de lua cheia, havia um circo. Nesse circo tinha uma sala com uma mesa. Em cima dessa mesa havia um lápis, uma flor, um milho, um cesto e no teto um balão pendurado. Sentado nessa mesa estava a sua mãe que tem um corpo e uma boca.”

 

Agora, tente novamente falar as 13 palavras.

Ficou muito mais fácil, imagino.

Vamos tentar com o segundo exemplo.

 

“Em uma estrada ao lado de uma fazenda com uma vaca e um rio, um carro pegando fogo passava de porta aberta. Dentro dele tinha um índio dirigindo com uma meia apenas, com um ponto no ouvido, e ao seu lado, no banco do passageiro, tinha um pato olhando para um doce no painel.”

 

Agora tente novamente as 10 palavras.

Ficou muito mais fácil, imagino.

Agora fale as 23 palavras de uma vez, sem olhar.

Ficou muito mais fácil, imagino.


PRIMEIRA INSTÂNCIA DA REFLEXÃO

Por que ficou mais fácil lembrar das palavras, depois que criamos um cenário em nossas cabeças?

 

(apenas um parêntese...

O que é um por que?

 

Um por que quer saber 

Saber o que está por trás 

Um por que quer saber 

A causa que te satisfaz 

 

Um por que revela a intenção 

Um por que revela a real motivação 

Um por que pode ser só um senão 

 

E o último por que…

O que é um último por quê?

Último por quê?

Como último por quê?

 

Um por que sempre traz um porquê e um novo por quê.

Sempre não tem fim.

Sempre uma nova raiz.

... fechando o apenas um parêntese).


Porque a partir do momento em que criamos ordem a partir do caos, entendemos.

Ora, palavras aleatórias jogadas ao caos, sem pretensão de conexão alguma são difíceis de se entender, seria necessário decorar, e decorar nunca é uma boa opção porque simplesmente o decorar é uma ilusão do entender.

Com isso para entender precisamos criar ordem a partir do caos.

 

SEGUNDA INSTÂNCIA DA REFLEXÃO

Peço licença pela citação anedótica (apesar de não ser um texto científico, temo o vomitar do meu ego em minhas palavras).

Vamos lá, para a segunda instância da reflexão.

Algumas vezes me pediram dicas de estudo.

Não sei bem por que, afinal nunca fui um aluno da primeira prateleira, sempre gostei de gastar muito tempo da minha vida me embriagando com companhias agradáveis. Fúteis muitas vezes, mas agradáveis. Com isso não me sobrava muito tempo para o mecanicismo acadêmico.

Qual é a dica?

A dica é: estude pensando que vai ter que explicar para alguém aquilo que você está estudando. Simples assim. Ou seja, leia e pratique pensando em métodos de explicar para alguém aquilo que está aprendendo. É infalível.

Certo e novamente nasce mais um “por que?”. Seguido, é claro, com um “o que isso tem a ver com o circo e com o índio no carro pegando fogo?”.

Para isso, peço sua paciência, por favor.

 

(apenas um parêntese...

Paciência

 

A paciência é um ato de desapego.

A paciência é caminhar sem medo.

Movimento.

 

“E se eu não tiver outra oportunidade como essa depois?”

“E se acabar meu dinheiro?”

“E se eu não achar outra pessoa?”

“E se eu não for aceito?”

"E se eu sair daqui, pra onde ir?"

 

As perguntas da impaciência são fundamentadas no medo.

 

Não se questione muito sobre para aonde ir.

Como ir.

Se ir. Se não ir.

Isso tudo está além do seu controle.

A vida tem um plano para você.

 

Apenas caminhe sem medo todos os dias.

Dando o seu melhor naquele dia.

Apenas caminhe pacientemente.

 

E lembre-se: paciência não é fazer nada.

A paciência é a revolução.

A paciência é caminhar sem medo.

 

Tenha fé que tudo é bondade.

... fechando o “apenas um parêntese”).

 

Vou seguir primeiro com a resposta do segundo “por que”.

Por que estudar com a intenção de ensinar faz com que você entenda o conteúdo ali escrito de maneira muito mais profunda e clara?

Porque para ensinar, precisamos necessariamente criar. Precisamos ler e criar em nossa cabeça uma explicação única e genuína nossa daquilo que está sendo ensinado.

Estudar em dupla, no que tange 1 lendo o que está sendo explicado e ir pausando para explicar para o outro e o contrário também, é sempre mais eficaz. Porque é posto em prática a necessidade da criação da explicação.

Agora respondendo o que isso tem a ver com o circo e com o índio no carro pegando fogo: se criamos ordem a partir do caos, entendemos; se criamos a explicação do que está sendo ensinado, criamos a sabedoria em nossas cabeças e assim entendemos.

Mas, para fazer isso note que existe algo por detrás: uma intenção de explicar ao próximo.

Vamos seguir.

 

TERCEIRA INSTÂNCIA DA REFLEXÃO

O que é uma criação?

Uma criação, para ser, precisas ser única e exclusiva, caso o contrário não é, caso o contrário é uma cópia.

Com isso, é importante ter em mente que se 7 bilhões de pessoas lerem sobre o circo:

“Em uma noite chuvosa de lua cheia, havia um circo. Nesse circo tinha uma sala com uma mesa. Em cima dessa mesa havia um lápis, um milho, um cesto e no teto um balão pendurado. Sentado nessa mesa estava a minha mãe que tem um corpo e uma boca.”

Teremos 7 bilhões de circos diferentes, porque cada um irá criar um cenário diferente em sua cabeça.

O meu balão, por exemplo, é verde água, tem estrelinhas brancas desenhadas nele e uma fitinha vermelha amarada nele. E o seu?

O meu circo tem bandeirinhas penduradas em cima de uma lona com losangos amarelos e cheiro de esterco. E o seu?

Com isso, entende-se que o exercício da compreensão passa necessariamente pelo exercício da criação (são análogos na realidade, e até aqui essa explicação faz parte da primeira e da segunda reflexão).

O elemento novo trazido pela terceira reflexão está na diferenciação; em que cada criação será única para cada indivíduo, mesmo que todos tenham bebido da mesma fonte.

Entender = Criar

Criar = Diferenciar

Seguindo a diante.

 

QUARTA INSTÂNCIA DA REFLEXÃO

Criamos?

Bom, neste momento, eu vou fazer referência aos meus POUCOS conhecimentos sobre Cabalá. Peço licença aos estudiosos veteranos e novamente, me critiquem a vontade.

Já me foi dito que não criamos. Já me foi dito que somos a criatura oriunda de um criador. Criador, esse que só é, graças a criatura. Criatura, essa que só é, graças ao criador.

Já me foi dito que fomos feitos para receber. Somos receptores da doação do criador. Porém, já me foi dito que a correção caminha no sentido da intenção da doação. Doação essa análoga a do criador. Doação essa análoga a criação.

Entendo, por aqui, que receber com a intenção de doação poderia ser reescrito com: receber com a intenção de criação.

Certo, com isso, podemos linkar com o exemplo dos estudos em que: se aprendermos a receber a sabedoria com a intenção de ensinar ela a alguém; seria como aprender a receber com a intenção de doação; intenção essa que só é uma ação quando TENTATIVA de criação. Apenas uma tentativa, nunca uma criação.

Organizando então, temos:

1.       Partimos do caos: palavras aleatórias e sem sentido lançadas ao acaso.

2.       Temos a intenção de criar ordem:  para isso, conectamos as palavras em um enredo que, por mais absurdo que pareça, faça sentido.

3.       Refletimos sobre os motivos da criação da ordem: compreensão/entendimento/sabedoria.

4.       Refletimos sobre a definição de criação: diferenciação/exclusividade.

5.       Refletimos sobre como conseguimos entender: com intenção de organizar para transmitir, ensinar, passar a diante, doar.

6.       Refletimos tudo isso no micro.


QUINTA INSTÂNCIA DA REFLEXÃO

Vou tentar refletir no macro.

Por que o criador quis fazer criadores?

Porque a resposta já está na pergunta.

Porque para criar, ele precisa fazer com que a criatura seja criadora, caso o contrário não é uma criação, é uma cópia. Caso o contrário não seria uma criatura. Caso o contrário eu não estaria aqui escrevendo essas palavras e você as lendo (volte na explicação dos 7 bilhões de circos).

Ele só cria se o resultado da criação for uma criatura criadora.

Uma criação só é, se for capaz de criar.

Por isso ele nunca criou os anjos.

Aqui explicamos a necessidade da intenção da criação/doação:

- Para nós não é uma alternativa, não é uma escolha, somos uma criação e por isso, e apenas por isso, temos a intenção de criar/doar. Ou seja, “receber para doar/criar” não é uma escolha, se fosse não existiríamos; não é uma imposição, entende? E se o processo da correção (como diz a Cabalá) passa sempre pelo “receber para doar”, isso vai acontecer invariavelmente; não existem razões para o medo, desespero, dor e sofrimento. E eu digo razões mesmo (com o cérebro, nem precisou do coração).

- Para o criador também não é uma alternativa, afinal de contas, ele precisa entender, e por isso ele estuda com a intenção de explicar para outros Criadores e esse processo de explicação passa, necessariamente, pela nossa criação. Passa necessariamente pela criação dos Criadores (é difícil, eu sei, mas tente pensar sem tempo que você vai entender; e aí quando achar que entendeu, tente pensar sem seu ego, ei ai vai saber sem precisar entender).

 

Nota de rodapé: eu não escrevo para você. “Você” não é “você”; “você” sou eu. É um processo metalinguístico, que nem o nome do blog. Se você ficou confuso e se você achou contraditório, você quase entendeu.

:)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A metalinguagem do Nada

Vida (e os sábios serão humildes)

As 7 chaves da nudez