A lambretinha mágica do amor
Ah sim, é verdade, temos tudo. Sim podemos, sim devemos, sim.
Apenas sim.
Os sentimentos nos empurram e nos puxam e assim vamos indo
como num rio. As vezes, como numa cachoeira que desagua em uma lagoa, calma e
serena.
Sim, é verdade! A vida existe, meu jovem amigo. Sim, você a
sente agora percorrendo o seu corpo. É como se você estivesse sorrindo e
sentindo o vento batendo em seu rosto enquanto se diverte em cima da sua
lambretinha mágica do amor.
E ela está começando a dar suas voltas por aí, passando no
meio dos carros pretos grandes, feios, sem vida, sem cor e repletos de rancor.
A lambretinha mágica do amor veio te ensinar que o
importante não é chegar lá, o importe é se divertir até chegar lá. Até porque o
lá, não existe. O lá, é.
Na competição da vida, a lambretinha não passa dos 80km/hr.
Na competição da vida, a lambretinha fica para trás na maior
parte do tempo.
Na competição da vida, a lambretinha para e aprecia.
Na competição da vida, a lambretinha quer só a parte da vida.
Foram séculos de caminhada, meu jovem amigo andarilho, você ainda
não se lembra, mas um dia irá.
Juntos fomos da Babilônia à Buenos Aires. Da Mongólia até a
Itália.
Juntos andamos, erramos, caímos, e como caímos.
Lá no meio das gaiolas vivemos, com asas negras e olhos
todos pretos sentimos.
Juntos voltamos e recomeçamos. E nadamos. Nadamos sem parar.
Nos fizeram mergulhar, nos anular e ajudar.
Uma bruxa que caminha na vida como uma noiva apaixonada no
altar.
Prestes a se casar, assim que o padre confirmar.
Juntos sempre estivermos, juntos sempre estaremos, mesmo que
no fundo do fundo do poço. Isso eu te garanto, meu jovem amigo.
A vida precisou de você e você esteve lá. A vida quer você e
você quer estar lá. A vida te chamou e você escutou. A vida é sua, se divirta.
Sim, dessa vez você não tem muita coisa.
Dessa vez, lhe foi dado apenas a lambreta mágica do amor.
Sem é isso ou é aquilo. Dessa vez, pode ser isso ou pode ser
aquilo.
Dessa vez você não vai andar de Ferrari, dessa vez você vai
contornar elas com um sorriso no rosto.
Dessa vez você não vai ver, não vai sentir, não vai saber.
Dessa vez, você vai descobrir.
A vida se apresenta nos seus poemas, meu jovem.
A vida é um poema.
E foi assim, no olhar penetrante de uma mulher mística que
você conheceu, a força do feminino que por uma vida inteira te apeteceu.
As vezes difícil e confuso elas aparecem.
As vezes claro e robusto elas te fornecem.
Vida é o que elas criam, vida é o que elas merecem.
Uma mulher, sempre uma mulher.
Um dia ali outro aqui. Um dia acelerando no meio dos carros
feios, outro dia deitado olhando o brilho das estrelas. Apaixonado você sempre
foi. Um amante da vida você se tornou.
O fluxo não tem fim, porque você já entendeu que a vida não
tem objetivo, que a vida foi criada para nos divertirmos.
É criada a partir de um enorme e curioso prazer. Você já está
notando a similaridade da existência, meu amigo, que lindo.
É como se você pudesse ser aquela criança livre que nunca
foi. É como se você pudesse não ter medo. É como se você tivesse uma certeza,
sem certeza.
Juntos, para sempre, meu jovem andarilho.
--
Um momento
Séculos se passaram
Da babilônia até os dias hoje
Nos lançaram
Uma vida, um respirar
Uma vida, um encontrar
Uma vida, um altar
Nossos santos
Nossos demônios
Nós somos o que somos
Uma vida, um suspiro
Uma vida, um retiro
Uma vida, um martírio
Nossos filhos
Nossos pais
Nós somos o que somos.
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